O iogurte é um dos derivados lácteos mais consumidos no mundo, fazendo parte do hábito alimentar de diferentes populações e apresentando ampla aceitação comercial. Sua produção movimenta a economia de pequenas agroindústrias até grandes indústrias, representando uma importante fonte de renda no setor alimentício. Nesse contexto, torna-se estratégica a adoção de tecnologias que otimizem o processo produtivo, reduzam riscos de contaminação microbiológica e garantam a qualidade do produto final.
Automação em pequena escala
A proposta de desenvolver um equipamento de bancada automatizado para fabricação de iogurtes em escala reduzida surge como uma alternativa promissora para atender às necessidades específicas de pequenos produtores, laboratórios e agroindústrias familiares. O objetivo é alcançar alta eficiência no processo, reduzindo o tempo de produção e evitando falhas decorrentes da manipulação mecânica manual, além de garantir resultados comparáveis aos obtidos com equipamentos de larga escala.
Embora existam equipamentos disponíveis no mercado para produções reduzidas, muitos não apresentam a eficiência e a precisão necessárias para uso em contextos técnicos e laboratoriais. A automação, mesmo em pequena escala, permite controle rigoroso de etapas críticas, como:
- pasteurização,
- homogeneização,
- inoculação e incubação,
garantindo a padronização dos lotes produzidos. Com o uso de tecnologias íveis, como sensores de temperatura e pH, controladores programáveis (Arduino e Raspberry Pi), dosadoras peristálticas e agitadores automáticos, é possível alcançar resultados expressivos com baixo custo operacional.
A literatura técnica reconhece o iogurte como o leite fermentado de maior importância econômica, obtido a partir da fermentação por Streptococcus salivarius subsp. thermophilus e Lactobacillus delbrueckii subsp. bulgaricus, podendo conter outras bactérias ácido-lácticas que contribuem para suas características sensoriais e nutricionais (TAMIME & ROBINSON, 1991; BRASIL, 2000). Além disso, é uma excelente fonte de proteínas e aminoácidos essenciais, apresentando propriedades terapêuticas atribuídas às bactérias utilizadas em sua produção.
O surgimento das técnicas de industrialização de produtos lácteos na década de 1980 trouxe ganhos significativos em segurança alimentar e produtividade. No entanto, muitos pequenos produtores ainda enfrentam dificuldades para implementar processos eficientes devido ao custo elevado de equipamentos como homogeneizadores (MARQUES, 2009). Por isso, é fundamental o desenvolvimento de soluções técnicas mais íveis e adaptadas à realidade da agroindústria familiar.
Tecnologias íveis impulsionam a valorização da produção artesanal
A modelagem e a simulação computacional também têm se mostrado ferramentas úteis para o planejamento e otimização de processos produtivos, auxiliando na definição de layout e fluxos de trabalho mais eficientes (ARAÚJO, 2017).
A incorporação dessas abordagens contribui para o desenvolvimento de equipamentos e processos que atendam às exigências do mercado e ampliem a competitividade de pequenos empreendimentos.
A valorização da produção artesanal e de alimentos com identidade regional tem crescido significativamente. Essa tendência acompanha o interesse crescente dos consumidores por produtos mais naturais, com menor grau de processamento e com apelo cultural e territorial (CRUZ & SCHNEIDER, 2022; DENTZ, 2017).
O desenvolvimento de um equipamento automatizado para produção de iogurtes em pequena escala atende diretamente a esse movimento, ao oferecer uma alternativa que alia tradição e inovação, garantindo segurança, qualidade e produtividade. Representando uma solução viável e necessária, contribuindo para fortalecer a cadeia produtiva do leite, melhorar a qualidade dos produtos ofertados e fomentar o desenvolvimento regional e sustentável.
Autores
Melina Maria Rodrigues Rezende
Weilla Araujo de Sousa
Marco Antônio Pereira da Silva
Agradecimentos
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) (Processo n. 303505/2023-0), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (FAPEG) Chamada Pública FAPEG n. 21/2024 - Programa de Auxílio à Pesquisa Científica e Tecnológica - Edição 2024, Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e IF Goiano - Campus Rio Verde pelo apoio financeiro a realização da pesquisa.
Referências bibliográficas
ARAÚJO, Adolfo Vicente. Modelagem e simulação do processo produtivo de iogurte. 2017.
BRASIL. Regulamento técnico de identidade e qualidade de leites fermentados (Instrução Normativa nº 46, de 23 de outubro de 2007). Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 2007.
CRUZ, M. S. da; SCHNEIDER, S. Feiras alimentares e mercados territoriais: a estrutura e o funcionamento das instituições de ordenamento das trocas locais. Raízes: Revista de Ciências Sociais e Econômicas, v. 42, n. 1, p. 93–113, 2022.
DENTZ, E. M. A produção artesanal de alimentos como patrimônio cultural e material. Revista Brasileira de Pesquisa em Alimentos, v. 8, n. 1, p. 10-19, 2017.
MARQUES, Flávia Charão. Velhos conhecimentos, novos desenvolvimentos: transições no regime sociotécnico da agricultura: a produção de novidades entre agricultores produtores de plantas medicinais no Sul do Brasil. 2009.
SAAD, Susana Marta Isay. Probióticos e prebióticos: o estado da arte. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, v. 42, p. 1-16, 2006.
SOARES, Cleber Oliveira et al. Segurança alimentar, sustentabilidade e produção de proteína de origem animal. 2019.
TAMIME, A. Y.; ROBINSON, R. K. Yogurt: Science and Technology. 2. ed. Cambridge: Woodhead Publishing Limited, 1991.