e-com-pasto-234048/" />

É possível produzir 24 litros/vaca/dia somente com pasto?

Pesquisadores uruguaios mostraram que, com o manejo correto do pasto, é possível aumentar a produção sem suplementação . Entenda!

Publicado em: - 4 minutos de leitura

Ícone para ver comentários 13
Ícone para curtir artigo 18

Um artigo recente, publicado por pesquisadores do Instituto Nacional de Investigación Agropecuaria (INIA) do Uruguai, demonstrou que, manejando o pasto sob uma estratégia que visa obter alta taxa de ingestão de forragem, sim, é possível.

O estudo de Gareli et al. foi realizado na Estação La Estanzuela, do INIA, em Colonia, no país vizinho. Foram usadas 24 vacas holandesas em lactação de alto mérito genético, com peso médio de 550 kg, pastando Dactylis glomerata, uma gramínea perene de estação fria muito usada por lá, por 80 dias durante a primavera. O artigo “Effects of grazing management and concentrate supplementation on intake and milk production of dairy cows grazing orchardgrass” foi publicado na revista “Animal Feed Science and Technology” em maio de 2023.

 No estudo, eles compararam duas estratégias manejo do pasto:  alta taxa de ingestão e alta colheita de forragem por hectare, com e sem suplementação.

O tratamento para alta colheita de forragem por hectare, teve como critério de entrada no pasto o número de folhas por perfilho, entre 3 a 4, e a saída com 1 a 2 cm de lâmina foliar deixada em perfilhos pastejados (correspondente a alturas entre 7 e 11 cm). Isso resultou em um rebaixamento de 65%, com 15% de área não pastejada pelas vacas.

Já na estratégia para alta taxa de ingestão, a altura de entrada foi definida como 21 cm e a saída com um rebaixamento de 40%, mais moderado, portanto, com cerca de 30% de área não pastejada, correspondente à altura média de 13 cm, referências usadas no Rotatínuo.

 

24 litros por vaca/dia, à pasto e sem suplementação

Na estratégia baseada no número de folhas do pasto, buscando alta colheita de forragem por hectare, se alcançou 2 ciclos de pastejo com intervalo de 38 dias durante o experimento. Elas consumiram diariamente 14 kg de MS de um pasto com 19-23% de PB e 59% de FDN e produziram 19 litros/vaca/dia em média, porém, às custas de impacto negativo no escore corporal e causando perda de peso nas vacas. 

Continua depois da publicidade

Já no manejo de alta taxa de ingestão, os pastejos de menor intensidade e mais frequentes permitiram maior consumo de pasto de maior qualidade nutricional, 26% de PB e 59% de FDN em seus 5 ciclos, a cada 15 dias, durante o período do experimento. As vacas chegaram a um consumo diário de mais de 16 kg de MS de pasto por dia e produziram uma média de 24 litros/vaca/dia, somente com pasto, sem nada de suplementação.

Tabela 1 - Síntese de resultados obtidos sem suplementação, sob as duas estratégias de manejo do pasto.

 

Alta Taxa de Ingestão

Alta Colheita de Forragem por Área

Ciclos de Pastejo (nº)

5

2

Período de descanso (dias)

15

38

Consumo de MS (kg/vaca/dia)

16.3

14.0

Litros/vaca/dia

23.9

19.3

 

Ou seja, adotando a estratégia de maior taxa de ingestão, elas consumiram mais pasto e produziram 5 litros a mais por vaca/dia, ganhando ainda em escore corporal e peso. Vale observar que esse alto consumo de pasto implica em uma ingestão de quase 3% de MS e FDN acima de 1,7% do PV.

29 litros por vaca/dia, à pasto com baixa suplementação concentrada

Nos tratamentos com suplementação, além da comparação das estratégias de manejo do pasto, eles forneceram 4 kg de MS de ração comercial (em torno de 0,7% do PV). A quantidade de concentrado foi definida buscando minimizar possíveis efeitos substitutivos.

No manejo para alta colheita de forragem, quando ofertada a ração concentrada,  o consumo de MS total da dieta chegou aos mesmos 16,3 kg que a outra estratégia de manejo, quando sem suplementação. A diferença de produtividade por vaca foi de 2,4 litros, chegando próximo de 22. Nesse caso, também foi resolvido o problema da perda de peso e de escore corporal que se obteve no tratamento sem suplementação.

Continua depois da publicidade

Já no manejo para alta taxa de ingestão, a diferença para a alimentação sem suplementação foi de quase 5 litros, chegando próximo de 29 litros por vaca/dia, com o consumo de MS total chegando a 17,7 kg e também mantendo escore corporal.

Tabela 2 - Síntese de resultados obtidos com suplementação, sob as duas estratégias de manejo do pasto.

 

Alta Taxa de Ingestão

Alta Colheita de Forragem por Área

Consumo de MS do pasto (kg/vaca/dia)

13,9

12,5

Consumo de MS Total (kg/vaca/dia)

17,7

16,3

Litros/vaca/dia

28,7

21,7

 

Ou seja, na estratégia de manejo do pasto para alta taxa de ingestão, com 0,7% do PV de suplementação concentrada, a produtividade animal chegou a 29 litros por vaca ao dia, explorando o potencial genético dos animais, valores significativamente superiores à outra estratégia de pastejo de maior intensidade.

Os autores analisam esses e outros resultados no artigo e concluem que, quando o objetivo for o desempenho animal, o pastejo priorizando a taxa de ingestão de forragem pelas vacas resulta em uma maior ingestão diária de forragem de maior valor nutritivo, o que leva a uma maior produção de leite e sólidos lácteos por vaca e aumentos no peso corporal da vaca, com ou sem suplementação concentrada.

Esse trabalho traz novas perspectivas para sistemas à base de pasto, demonstrando que é possível obter alto consumo de MS de pasto e produtividade de vacas de alto mérito genético à pasto com ou sem suplementação, ao empregar essa estratégia de alta taxa de ingestão no manejo.

 

Gostou do conteúdo? Deixe seu like e seu comentário, isso nos ajuda a saber que conteúdos são mais interessantes para você.
 

Referência:

Solange Gareli, Alejandro Mendoza, Nora M. Bello, Fernando A. Lattanzi, Santiago R. Fariña, Jean V. Savian, Effects of grazing management and concentrate supplementation on intake and milk production of dairy cows grazing orchardgrass, Animal Feed Science and Technology, Volume 301, 2023. https://doi.org/10.1016/j.anifeedsci.2023.115668

 
QUER AR O CONTEÚDO? É GRATUITO!

Para continuar lendo o conteúdo entre com sua conta ou cadastre-se no MilkPoint.

Tenha o a conteúdos exclusivos gratuitamente!

Ícone para ver comentários 13
Ícone para curtir artigo 18

Material escrito por:

Leandro Ebert

Deixe sua opinião!

Foto do usuário

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração.

Henrique Costa Filho
HENRIQUE COSTA FILHO

CAMPINAS - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 16/10/2023

Esse consumo acima de 1,7% do PV em FDN é surreal!!! Talvez seja necessário repensar o padrão de 1,2+- 0,1% do PV, ou pensar em quantificar a lignina e não só o FDN de cada pastagem...
Leandro Ebert
LEANDRO EBERT

JÚLIO DE CASTILHOS - RIO GRANDE DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 17/10/2023

Bem observado Henrique!
Foi por isso mesmo que ressaltei esse valor de consumo de FDN nesse texto. Quando se trabalha com essa estratégia buscando alta taxa de ingestão, não há essa limitação usual de consumo de FDN comumente usada nas dietas.

Se tu te interessa pelo tema, recomendo fazer a leitura do artigo que publicamos recentemente aqui explicando essa estratégia de manejo de pastagens: /artigos/producao-de-leite/pastejo-rotatinuo-aumentando-o-consumo-de-pasto-235194/
Henrique Costa Filho
EM RESPOSTA A LEANDRO EBERT HENRIQUE COSTA FILHO

CAMPINAS - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 17/10/2023

Leandro
O artigo que citou não foi só lido, como já está salvo!
Eliseu Luiz Rizzatti
ELISEU LUIZ RIZZATTI

BARRA DO RIO AZUL - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 25/06/2023

Gostei e tudo que tiver sobre vaca no pasto m interesa.
Roquilanio Fernandes Souto
ROQUILANIO FERNANDES SOUTO

FORMIGA - MINAS GERAIS - DISTRIBUIÇÃO DE ALIMENTOS (CARNES, LÁCTEOS, CAFÉ)

EM 22/06/2023

Olá pessoal,
Achei muito interessante essa matéria. Fica uma dúvida, qual seria a forragem mais indicada que chegasse mais próxima desses resultados aqui no Brasil? Sei q implica muuuito na qualidade q esta forragem deverá estar p se obter esses resultados... Sei tb q o manejo de entrada e saída tem q ser rigorosamente respeitado. Aguardo sugestão das forrageiras indicadas .
Leandro Ebert
LEANDRO EBERT

JÚLIO DE CASTILHOS - RIO GRANDE DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 22/06/2023

Olá! A questão que o artigo aborda é relacionada ao manejo do pasto com a estratégia de alta taxa de ingestão e não à forrageira em si. A diferença de produtividade entre as estratégias de manejo são devido a esse maior consumo obtido nessa estratégia. Essa estratégia, no entanto, vc pode aplicar em qualquer forrageira. Dessa forma, a escolha da forrageira seguirá os mesmos critérios que já são usados para isso. Inclusive, já há estudos demonstrando quais as alturas que permitem a maior taxa de ingestão para os principais tipos de Forrageiras tropicais usadas no Brasil e, isso é o que fica diferente com essa estratégia.
Leandro Ebert
EM RESPOSTA A GABRIEL APARECIDO DE LIMA LEANDRO EBERT

JÚLIO DE CASTILHOS - RIO GRANDE DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 23/06/2023

Olá Gabriel! A qualidade nutricional do pasto usado no experimento é alcançada aqui a campo tanto com pastagens temperadas quando subtropicais ou tropicais, manejadas sob essa ótica proposta de alta taxa de ingestão. Acrescento que, a questão bromatológica é secundária sob essa visão, visto que o principal problema que a proposta resolve no consumo é tempo para consumo e, nãobde considera a qualidade limitante. Haja vista os elevados níveis de fdn consumidos que fiz questão de ressaltar. Penso que a discussão sobre a pastagem e não sobre o manejo cai no mesmo dilema de sempre e foge do real fator que deu a diferença de resultado, que foi a estratégia de manejo, diferente de todas as outras. Veja que o mesmo material sob a outra técnica de manejo não gerou os mesmos resultados.
Gabriel Aparecido de Lima
GABRIEL APARECIDO DE LIMA

JACUÍ - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/06/2023

Não posso dar certeza, mas até onde vão meus conhecimentos acredito que algo parecido possa ser alcançado com pastagens temperadas nos estados do sul. Dentro da zona tropical do Brasil, só conheço uma coragem com níveis de proteína e ndt aproximados mas não pode ser ofertada in natura pros animais, ou seja, não pode ser pastejada. Falo da parte aérea da mandioca. Como disse não posso falar com total certeza, se algum colega puder acrescentar ficarei muito feliz e grato.
Arturo Guarino
ARTURO GUARINO

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS

EM 16/10/2023

Prezados colegas, O ponto importante e'o grau de digestibilidad do pasto fornecido/ oferecido.Ai temos aumento do consumo sem topear o rumen e temos aumento da digestibilidade total do alimento consumido permetindo maior agem com melhor aproveitamento e por tanto os resultados produtivos mostrados. Muito provavelmente tenha tambem efeitos na reproduçao, no estado corporal posterior do animal, etc etc. isso ja e'outra historia .A dactylis ( pasto azul com chamamos por aquelas pampas ) e'um pasto "nobre"com alta digestibilidade, e selecionando o animal ainda mais. E' principalmente invernal, pastos mais finos ainda.Tem que se considerar o ponto exato de pastagem, e monitorar ate aonde manter comendo antes de retirar o gado para evitar a queda de digestibilidade. Combinar com o correto concentrado potencia totalmente a pastagem consumida, cobrindo as possiveis faltas de proteina ( by , sobreante , por que dificilmente vai aproveitar assim sem concentrado mais 13% da PC ), e a energia rapida que ajuda a flora a digerir ruminalmente esse recurso. Claro que aumenta tbn a energia total consumida favorecendo a produçao maior. O balance tem que ser principalmente economico, .. qual e'a equaçao que dar mais beneficio, nao qual e'a que produz mais leite. Hoje no Uruguai os preços estao muito baixos e os produtores fazem malavares com pasto ( e poucas chuva nos ultimos anos e agora no sul novamente) para producir a minimo custo . Nos estados do Sul fica mais facil, pelos tipos de pastagens usados, aqui em MG aonde moro e aonde o Roquilanio pergunta fica diferente mas temos ferramentas varias. Se quer conversar estou totalmente disponível para trocarmos ideias, vai ser um prazer . Abraço a todos e desculpem meus erros no portugues :)
Arturo Guarino
EM RESPOSTA A GABRIEL APARECIDO DE LIMA ARTURO GUARINO

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS

EM 16/10/2023

Por favor Gabriel, olha o meu comentario, estou tbn em MG. e gostaria de conversar mais em profundidade no assunto, Vai ser bem interessante.
Leandro Ebert
EM RESPOSTA A ARTURO GUARINO LEANDRO EBERT

JÚLIO DE CASTILHOS - RIO GRANDE DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 16/10/2023

Olá Arturo! Boas colocações.

A premissa dessa proposta de manejo é que a parte química é secundária, visto que a digestão é posterior à ingestão. Ou seja: a digestibilidade não é o principal. O que estaria limitando inicialmente a produtividade seria a ingestão. É claro que a composição química irá afetar os resultados, porém, mais do que os termos quantitativos, o ponto a destacar é a diferença entre consumo e produtividade entre as duas estratégias analisadas.

Isso nos dá um indicativo que pode ser trabalhado também com outras forrageiras, mesmo dentro de suas limitações. Inclusive, há diversos trabalhos científicos efeitos com forrageiras tropicais a partir dessa proposta, bem como fazendas que já trabalham dessa forma em regiões tropicais, assim como aqui no sul usamos forrageiras tropicais no verão com resultados semelhantes.

Recomendo fazer a leitura do artigo que publicamos recentemente aqui explicando essa estratégia de manejo: /artigos/producao-de-leite/pastejo-rotatinuo-aumentando-o-consumo-de-pasto-235194/
Arturo Guarino
EM RESPOSTA A LEANDRO EBERT ARTURO GUARINO

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS

EM 16/10/2023

Oi Leandro, bom dia, obrigado. Eu acho que talvez nao fui claro , quando falo de digestibilidade, falo da capacidade a nivel ruminal de digerir uma certa quantidade de alimento, e de estar tbn limitado pelo volumen , .. o que quero deixar claro ( como um de varios elementos que modificam a ingesta total do animal) e'que sendo porçoes mais digestiveis, tem um tempo de permanencia diferente e o volumen se ve modificado para mais durante o dia .. que o animal selecione faz que escolha as partes mais nutritivas e mais digestiveis, tbn que por ter uma oferta maior o numero e tamanho de cada vocado seja maior, tdo soma na hora de consumir mais .. e melhor..Outra coisa que se nao estou errado nesse trabalho, para conseguir esse consumo ( tenho quase certeza foi nesse ensaio en La Estanzuela), eles fazem 6 pastoreios diarios, mudam 6 vezes a franja de pastoreio, e isso estimula o reflexo de consumo e aumenta o volumen total consumido. Como vc bem fala, tem formas de fazer tbn com pastagens tropicais, e muitas combinaçoes possiveis para melhorar os resultados. Eu ja vi teu artigo e com muito interesse, e 'recente , achei interessante, uma estretegia mais a considerar, concordei plenamente com o comentado, o que talvez estou enfatizando aqui e'que o pastoreio no sentido do que o pastor faz, de estar acima do gado , de olhar a mudança de comportamento , de fazer e adaptar estrategias a cada momento faz muita diferença, embora de muito trabalho.Mais uma vez obrigado e continuamos conversando . Abraço
Leandro Ebert
EM RESPOSTA A ARTURO GUARINO LEANDRO EBERT

JÚLIO DE CASTILHOS - RIO GRANDE DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 28/08/2024

Arturo, entendo as tuas colocações! Como nutricionista veio dessa base também.

No entanto, os estudos em ecologia do pastejo, que deram origem a essa ótica de manejo do comportamento animal, esses parâmetros químicos são pouco relevantes. Note, que, o tero de FDN da pastagem era relativamente alto e, o consumo de FDN total foi bem superior ao que os modelos preconizam (chegou próximo de 1,8% do PV em fNDF, enquanto que as referências mais usadas citam de 0,8 a 1,2 +_0,1%. Essa proposta de manejo visando proporcionar condições para o animal maximizar o seu tempo em pastejo rompe com esses parâmetros nutricionais estabelecidos.

Ao mesmo tempo, informo-te que, ao contrário da proposta de manejo citada de 6 trocas diárias, nesse estudo foi feita apenas 1 troca diárias de franja, no horário do entardecer, portanto, não é o fator troca de piquetes que fez diferença e sim, a estrutura do pasto, representada pelas diferentes alturas de entrada e de rebaixamento, conforme explorado no artigo.

Saludos!
Qual a sua dúvida hoje?

É possível produzir 24 litros/vaca/dia somente com pasto?

Pesquisadores uruguaios mostraram que, com o manejo correto do pasto, é possível aumentar a produção sem suplementação . Entenda!

Publicado em: - 4 minutos de leitura

Ícone para ver comentários 13
Ícone para curtir artigo 18

Um artigo recente, publicado por pesquisadores do Instituto Nacional de Investigación Agropecuaria (INIA) do Uruguai, demonstrou que, manejando o pasto sob uma estratégia que visa obter alta taxa de ingestão de forragem, sim, é possível.

O estudo de Gareli et al. foi realizado na Estação La Estanzuela, do INIA, em Colonia, no país vizinho. Foram usadas 24 vacas holandesas em lactação de alto mérito genético, com peso médio de 550 kg, pastando Dactylis glomerata, uma gramínea perene de estação fria muito usada por lá, por 80 dias durante a primavera. O artigo “Effects of grazing management and concentrate supplementation on intake and milk production of dairy cows grazing orchardgrass” foi publicado na revista “Animal Feed Science and Technology” em maio de 2023.

 No estudo, eles compararam duas estratégias manejo do pasto:  alta taxa de ingestão e alta colheita de forragem por hectare, com e sem suplementação.

O tratamento para alta colheita de forragem por hectare, teve como critério de entrada no pasto o número de folhas por perfilho, entre 3 a 4, e a saída com 1 a 2 cm de lâmina foliar deixada em perfilhos pastejados (correspondente a alturas entre 7 e 11 cm). Isso resultou em um rebaixamento de 65%, com 15% de área não pastejada pelas vacas.

Já na estratégia para alta taxa de ingestão, a altura de entrada foi definida como 21 cm e a saída com um rebaixamento de 40%, mais moderado, portanto, com cerca de 30% de área não pastejada, correspondente à altura média de 13 cm, referências usadas no Rotatínuo.

 

24 litros por vaca/dia, à pasto e sem suplementação

Na estratégia baseada no número de folhas do pasto, buscando alta colheita de forragem por hectare, se alcançou 2 ciclos de pastejo com intervalo de 38 dias durante o experimento. Elas consumiram diariamente 14 kg de MS de um pasto com 19-23% de PB e 59% de FDN e produziram 19 litros/vaca/dia em média, porém, às custas de impacto negativo no escore corporal e causando perda de peso nas vacas. 

Continua depois da publicidade

Já no manejo de alta taxa de ingestão, os pastejos de menor intensidade e mais frequentes permitiram maior consumo de pasto de maior qualidade nutricional, 26% de PB e 59% de FDN em seus 5 ciclos, a cada 15 dias, durante o período do experimento. As vacas chegaram a um consumo diário de mais de 16 kg de MS de pasto por dia e produziram uma média de 24 litros/vaca/dia, somente com pasto, sem nada de suplementação.

Tabela 1 - Síntese de resultados obtidos sem suplementação, sob as duas estratégias de manejo do pasto.

 

Alta Taxa de Ingestão

Alta Colheita de Forragem por Área

Ciclos de Pastejo (nº)

5

2

Período de descanso (dias)

15

38

Consumo de MS (kg/vaca/dia)

16.3

14.0

Litros/vaca/dia

23.9

19.3

 

Ou seja, adotando a estratégia de maior taxa de ingestão, elas consumiram mais pasto e produziram 5 litros a mais por vaca/dia, ganhando ainda em escore corporal e peso. Vale observar que esse alto consumo de pasto implica em uma ingestão de quase 3% de MS e FDN acima de 1,7% do PV.

29 litros por vaca/dia, à pasto com baixa suplementação concentrada

Nos tratamentos com suplementação, além da comparação das estratégias de manejo do pasto, eles forneceram 4 kg de MS de ração comercial (em torno de 0,7% do PV). A quantidade de concentrado foi definida buscando minimizar possíveis efeitos substitutivos.

No manejo para alta colheita de forragem, quando ofertada a ração concentrada,  o consumo de MS total da dieta chegou aos mesmos 16,3 kg que a outra estratégia de manejo, quando sem suplementação. A diferença de produtividade por vaca foi de 2,4 litros, chegando próximo de 22. Nesse caso, também foi resolvido o problema da perda de peso e de escore corporal que se obteve no tratamento sem suplementação.

Continua depois da publicidade

Já no manejo para alta taxa de ingestão, a diferença para a alimentação sem suplementação foi de quase 5 litros, chegando próximo de 29 litros por vaca/dia, com o consumo de MS total chegando a 17,7 kg e também mantendo escore corporal.

Tabela 2 - Síntese de resultados obtidos com suplementação, sob as duas estratégias de manejo do pasto.

 

Alta Taxa de Ingestão

Alta Colheita de Forragem por Área

Consumo de MS do pasto (kg/vaca/dia)

13,9

12,5

Consumo de MS Total (kg/vaca/dia)

17,7

16,3

Litros/vaca/dia

28,7

21,7

 

Ou seja, na estratégia de manejo do pasto para alta taxa de ingestão, com 0,7% do PV de suplementação concentrada, a produtividade animal chegou a 29 litros por vaca ao dia, explorando o potencial genético dos animais, valores significativamente superiores à outra estratégia de pastejo de maior intensidade.

Os autores analisam esses e outros resultados no artigo e concluem que, quando o objetivo for o desempenho animal, o pastejo priorizando a taxa de ingestão de forragem pelas vacas resulta em uma maior ingestão diária de forragem de maior valor nutritivo, o que leva a uma maior produção de leite e sólidos lácteos por vaca e aumentos no peso corporal da vaca, com ou sem suplementação concentrada.

Esse trabalho traz novas perspectivas para sistemas à base de pasto, demonstrando que é possível obter alto consumo de MS de pasto e produtividade de vacas de alto mérito genético à pasto com ou sem suplementação, ao empregar essa estratégia de alta taxa de ingestão no manejo.

 

Gostou do conteúdo? Deixe seu like e seu comentário, isso nos ajuda a saber que conteúdos são mais interessantes para você.
 

Referência:

Solange Gareli, Alejandro Mendoza, Nora M. Bello, Fernando A. Lattanzi, Santiago R. Fariña, Jean V. Savian, Effects of grazing management and concentrate supplementation on intake and milk production of dairy cows grazing orchardgrass, Animal Feed Science and Technology, Volume 301, 2023. https://doi.org/10.1016/j.anifeedsci.2023.115668

 
QUER AR O CONTEÚDO? É GRATUITO!

Para continuar lendo o conteúdo entre com sua conta ou cadastre-se no MilkPoint.

Tenha o a conteúdos exclusivos gratuitamente!

Ícone para ver comentários 13
Ícone para curtir artigo 18

Material escrito por:

Leandro Ebert

Deixe sua opinião!

Foto do usuário

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração.

Henrique Costa Filho
HENRIQUE COSTA FILHO

CAMPINAS - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 16/10/2023

Esse consumo acima de 1,7% do PV em FDN é surreal!!! Talvez seja necessário repensar o padrão de 1,2+- 0,1% do PV, ou pensar em quantificar a lignina e não só o FDN de cada pastagem...
Leandro Ebert
LEANDRO EBERT

JÚLIO DE CASTILHOS - RIO GRANDE DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 17/10/2023

Bem observado Henrique!
Foi por isso mesmo que ressaltei esse valor de consumo de FDN nesse texto. Quando se trabalha com essa estratégia buscando alta taxa de ingestão, não há essa limitação usual de consumo de FDN comumente usada nas dietas.

Se tu te interessa pelo tema, recomendo fazer a leitura do artigo que publicamos recentemente aqui explicando essa estratégia de manejo de pastagens: /artigos/producao-de-leite/pastejo-rotatinuo-aumentando-o-consumo-de-pasto-235194/
Henrique Costa Filho
EM RESPOSTA A LEANDRO EBERT HENRIQUE COSTA FILHO

CAMPINAS - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 17/10/2023

Leandro
O artigo que citou não foi só lido, como já está salvo!
Eliseu Luiz Rizzatti
ELISEU LUIZ RIZZATTI

BARRA DO RIO AZUL - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 25/06/2023

Gostei e tudo que tiver sobre vaca no pasto m interesa.
Roquilanio Fernandes Souto
ROQUILANIO FERNANDES SOUTO

FORMIGA - MINAS GERAIS - DISTRIBUIÇÃO DE ALIMENTOS (CARNES, LÁCTEOS, CAFÉ)

EM 22/06/2023

Olá pessoal,
Achei muito interessante essa matéria. Fica uma dúvida, qual seria a forragem mais indicada que chegasse mais próxima desses resultados aqui no Brasil? Sei q implica muuuito na qualidade q esta forragem deverá estar p se obter esses resultados... Sei tb q o manejo de entrada e saída tem q ser rigorosamente respeitado. Aguardo sugestão das forrageiras indicadas .
Leandro Ebert
LEANDRO EBERT

JÚLIO DE CASTILHOS - RIO GRANDE DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 22/06/2023

Olá! A questão que o artigo aborda é relacionada ao manejo do pasto com a estratégia de alta taxa de ingestão e não à forrageira em si. A diferença de produtividade entre as estratégias de manejo são devido a esse maior consumo obtido nessa estratégia. Essa estratégia, no entanto, vc pode aplicar em qualquer forrageira. Dessa forma, a escolha da forrageira seguirá os mesmos critérios que já são usados para isso. Inclusive, já há estudos demonstrando quais as alturas que permitem a maior taxa de ingestão para os principais tipos de Forrageiras tropicais usadas no Brasil e, isso é o que fica diferente com essa estratégia.
Leandro Ebert
EM RESPOSTA A GABRIEL APARECIDO DE LIMA LEANDRO EBERT

JÚLIO DE CASTILHOS - RIO GRANDE DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 23/06/2023

Olá Gabriel! A qualidade nutricional do pasto usado no experimento é alcançada aqui a campo tanto com pastagens temperadas quando subtropicais ou tropicais, manejadas sob essa ótica proposta de alta taxa de ingestão. Acrescento que, a questão bromatológica é secundária sob essa visão, visto que o principal problema que a proposta resolve no consumo é tempo para consumo e, nãobde considera a qualidade limitante. Haja vista os elevados níveis de fdn consumidos que fiz questão de ressaltar. Penso que a discussão sobre a pastagem e não sobre o manejo cai no mesmo dilema de sempre e foge do real fator que deu a diferença de resultado, que foi a estratégia de manejo, diferente de todas as outras. Veja que o mesmo material sob a outra técnica de manejo não gerou os mesmos resultados.
Gabriel Aparecido de Lima
GABRIEL APARECIDO DE LIMA

JACUÍ - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/06/2023

Não posso dar certeza, mas até onde vão meus conhecimentos acredito que algo parecido possa ser alcançado com pastagens temperadas nos estados do sul. Dentro da zona tropical do Brasil, só conheço uma coragem com níveis de proteína e ndt aproximados mas não pode ser ofertada in natura pros animais, ou seja, não pode ser pastejada. Falo da parte aérea da mandioca. Como disse não posso falar com total certeza, se algum colega puder acrescentar ficarei muito feliz e grato.
Arturo Guarino
ARTURO GUARINO

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS

EM 16/10/2023

Prezados colegas, O ponto importante e'o grau de digestibilidad do pasto fornecido/ oferecido.Ai temos aumento do consumo sem topear o rumen e temos aumento da digestibilidade total do alimento consumido permetindo maior agem com melhor aproveitamento e por tanto os resultados produtivos mostrados. Muito provavelmente tenha tambem efeitos na reproduçao, no estado corporal posterior do animal, etc etc. isso ja e'outra historia .A dactylis ( pasto azul com chamamos por aquelas pampas ) e'um pasto "nobre"com alta digestibilidade, e selecionando o animal ainda mais. E' principalmente invernal, pastos mais finos ainda.Tem que se considerar o ponto exato de pastagem, e monitorar ate aonde manter comendo antes de retirar o gado para evitar a queda de digestibilidade. Combinar com o correto concentrado potencia totalmente a pastagem consumida, cobrindo as possiveis faltas de proteina ( by , sobreante , por que dificilmente vai aproveitar assim sem concentrado mais 13% da PC ), e a energia rapida que ajuda a flora a digerir ruminalmente esse recurso. Claro que aumenta tbn a energia total consumida favorecendo a produçao maior. O balance tem que ser principalmente economico, .. qual e'a equaçao que dar mais beneficio, nao qual e'a que produz mais leite. Hoje no Uruguai os preços estao muito baixos e os produtores fazem malavares com pasto ( e poucas chuva nos ultimos anos e agora no sul novamente) para producir a minimo custo . Nos estados do Sul fica mais facil, pelos tipos de pastagens usados, aqui em MG aonde moro e aonde o Roquilanio pergunta fica diferente mas temos ferramentas varias. Se quer conversar estou totalmente disponível para trocarmos ideias, vai ser um prazer . Abraço a todos e desculpem meus erros no portugues :)
Arturo Guarino
EM RESPOSTA A GABRIEL APARECIDO DE LIMA ARTURO GUARINO

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS

EM 16/10/2023

Por favor Gabriel, olha o meu comentario, estou tbn em MG. e gostaria de conversar mais em profundidade no assunto, Vai ser bem interessante.
Leandro Ebert
EM RESPOSTA A ARTURO GUARINO LEANDRO EBERT

JÚLIO DE CASTILHOS - RIO GRANDE DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 16/10/2023

Olá Arturo! Boas colocações.

A premissa dessa proposta de manejo é que a parte química é secundária, visto que a digestão é posterior à ingestão. Ou seja: a digestibilidade não é o principal. O que estaria limitando inicialmente a produtividade seria a ingestão. É claro que a composição química irá afetar os resultados, porém, mais do que os termos quantitativos, o ponto a destacar é a diferença entre consumo e produtividade entre as duas estratégias analisadas.

Isso nos dá um indicativo que pode ser trabalhado também com outras forrageiras, mesmo dentro de suas limitações. Inclusive, há diversos trabalhos científicos efeitos com forrageiras tropicais a partir dessa proposta, bem como fazendas que já trabalham dessa forma em regiões tropicais, assim como aqui no sul usamos forrageiras tropicais no verão com resultados semelhantes.

Recomendo fazer a leitura do artigo que publicamos recentemente aqui explicando essa estratégia de manejo: /artigos/producao-de-leite/pastejo-rotatinuo-aumentando-o-consumo-de-pasto-235194/
Arturo Guarino
EM RESPOSTA A LEANDRO EBERT ARTURO GUARINO

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS

EM 16/10/2023

Oi Leandro, bom dia, obrigado. Eu acho que talvez nao fui claro , quando falo de digestibilidade, falo da capacidade a nivel ruminal de digerir uma certa quantidade de alimento, e de estar tbn limitado pelo volumen , .. o que quero deixar claro ( como um de varios elementos que modificam a ingesta total do animal) e'que sendo porçoes mais digestiveis, tem um tempo de permanencia diferente e o volumen se ve modificado para mais durante o dia .. que o animal selecione faz que escolha as partes mais nutritivas e mais digestiveis, tbn que por ter uma oferta maior o numero e tamanho de cada vocado seja maior, tdo soma na hora de consumir mais .. e melhor..Outra coisa que se nao estou errado nesse trabalho, para conseguir esse consumo ( tenho quase certeza foi nesse ensaio en La Estanzuela), eles fazem 6 pastoreios diarios, mudam 6 vezes a franja de pastoreio, e isso estimula o reflexo de consumo e aumenta o volumen total consumido. Como vc bem fala, tem formas de fazer tbn com pastagens tropicais, e muitas combinaçoes possiveis para melhorar os resultados. Eu ja vi teu artigo e com muito interesse, e 'recente , achei interessante, uma estretegia mais a considerar, concordei plenamente com o comentado, o que talvez estou enfatizando aqui e'que o pastoreio no sentido do que o pastor faz, de estar acima do gado , de olhar a mudança de comportamento , de fazer e adaptar estrategias a cada momento faz muita diferença, embora de muito trabalho.Mais uma vez obrigado e continuamos conversando . Abraço
Leandro Ebert
EM RESPOSTA A ARTURO GUARINO LEANDRO EBERT

JÚLIO DE CASTILHOS - RIO GRANDE DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 28/08/2024

Arturo, entendo as tuas colocações! Como nutricionista veio dessa base também.

No entanto, os estudos em ecologia do pastejo, que deram origem a essa ótica de manejo do comportamento animal, esses parâmetros químicos são pouco relevantes. Note, que, o tero de FDN da pastagem era relativamente alto e, o consumo de FDN total foi bem superior ao que os modelos preconizam (chegou próximo de 1,8% do PV em fNDF, enquanto que as referências mais usadas citam de 0,8 a 1,2 +_0,1%. Essa proposta de manejo visando proporcionar condições para o animal maximizar o seu tempo em pastejo rompe com esses parâmetros nutricionais estabelecidos.

Ao mesmo tempo, informo-te que, ao contrário da proposta de manejo citada de 6 trocas diárias, nesse estudo foi feita apenas 1 troca diárias de franja, no horário do entardecer, portanto, não é o fator troca de piquetes que fez diferença e sim, a estrutura do pasto, representada pelas diferentes alturas de entrada e de rebaixamento, conforme explorado no artigo.

Saludos!
Qual a sua dúvida hoje?