A pecuária leiteira brasileira está ando por uma transformação profunda e acelerada. O número de produtores de leite no país vem diminuindo de forma contínua nas últimas décadas. Segundo o relatório “Quem produz o leite brasileiro” de 2024, elaborado pela MilkPoint Ventures, uma análise das 15 empresas que participaram de todas as edições do estudo (2013, 2023 e 2024) mostra uma queda expressiva na base de produtores: cerca de 19% entre 2013 e 2023 e quase 14% apenas entre 2023 e 2024.
Apesar dessa redução significativa, o volume total de leite captado pelas mesmas empresas não seguiu a mesma tendência. Pelo contrário: a captação diária aumentou mais de 30% no período de 2013 a 2024. Esse aparente paradoxo tem uma explicação evidente — o expressivo aumento da produtividade média por produtor.
Produtividade média do leite sobe mesmo com menos produtores
Hoje, o leite brasileiro é produzido por menos mãos, mas com mais tecnologia, escala e eficiência. Com a saída de pequenos produtores, a atividade ou a se concentrar em propriedades mais estruturadas. Nessas fazendas, a adoção de ferramentas modernas — como softwares de gestão, ordenha robotizada, genética avançada e nutrição de precisão — tem impulsionado ganhos expressivos de produtividade por vaca, por hectare e por trabalhador.
Mesmo diante de diversos desafios, a produtividade média do leite segue em alta. O resultado é uma cadeia mais concentrada, porém também mais profissionalizada.
Fatores que explicam a queda do número de produtores
Diversos fatores ajudam a explicar a queda contínua no número de produtores de leite no Brasil como:
- A baixa rentabilidade da atividade: em muitos casos, o valor pago ao produtor mal cobre os custos de produção, o que torna a permanência no setor inviável.
- Aumento das importações de leite do Mercosul: que pressionam os preços internos e reduzem a competitividade dos produtores nacionais.
- Falta de sucessão familiar: muitos jovens optam por não seguir na atividade leiteira, seja pela percepção de baixa atratividade econômica ou pelas dificuldades do dia a dia no campo.
- Gestão precária: a ausência de controles produtivos e financeiros dificulta a modernização das propriedades e compromete a tomada de decisão
- Desafios climáticos: secas prolongadas, ondas de calor e chuvas intensas afetam diretamente a produção, especialmente nas propriedades com pouca resiliência ambiental e estrutural.
O futuro da produção de leite
Diante desse cenário desafiador, uma nova pergunta ganha força: essa mudança no perfil da produção leiteira também está ocorrendo em outros países? E mais: quais são as implicações da saída em massa dos pequenos produtores para a segurança alimentar, o desenvolvimento rural e a sustentabilidade da pecuária leiteira no longo prazo?
Essas e outras questões estratégicas estarão no centro da palestra “A redução do número de produtores de leite é um fenômeno global?”, que será apresentada por Paulo do Carmo Martins, da Embrapa, durante o Interleite Brasil 2025. A apresentação fará um mergulho comparativo no cenário mundial da produção de leite, destacando tendências, riscos e caminhos possíveis para o futuro da atividade — tanto no Brasil quanto no exterior.