A busca pela eficiência reprodutivo do rebanho leiteiro, aumenta a necessidade de controle do manejo, genética, nutrição, sanidade e ambiente, pois o desempenho reprodutivo do rebanho impacta diretamente o retorno econômico da atividade, afetando produção de leite, o número de animais de reposição, os custos de produção, dentre outros aspectos.
Impactos do tipo de parto na saúde e reprodução das vacas
O momento do parto é um período crítico para a vaca, e problemas nesse momento podem levar a impactos para a vida toda da mãe e do bezerro, além de aumentar a probabilidade de lesões do trato reprodutivo das fêmeas e afetar a taxa de concepção na lactação subsequente (Sheldon et al., 2009).
Já se sabe os efeitos da retenção de placenta associados ao surgimento de doenças no pós-parto, redução na produção de leite, redução da eficiência reprodutiva e aumento na taxa de descarte (Van Werven et al., 1992; Ettema e Santos, 2004; Wiltbank, 2006), porém até o momento, não se tem dados na literatura sobre os efeitos do tipo de parto na performance reprodutiva de vacas que não desenvolveram retenção de placenta.
Dessa forma, em experimento realizado em uma fazenda comercial em Minas Gerais, Brasil, foram avaliados dados de 670 vacas Girolando em um período de 9 anos, de Janeiro de 2015 a Janeiro de 2024, considerando a data de cada parto, o tipo de parto (normal, assistido, aborto, natimorto o gemelar), o número de inseminações realizadas no período pós-parto destas vacas. A partir desses dados, foi possível calcular o intervalo entre o parto e a primeira inseminação artificial (IA), o período de serviço e a taxa de concepção na primeira IA pós-parto. Para as análises foram excluídas as vacas que apresentaram retenção de placenta.
Efeitos do parto assistido sobre o período de serviço
Os resultados mostraram que vacas que tiveram parto normal apresentaram 123 dias no período de serviço em média, enquanto a média de dias do período de serviço de vacas que necessitaram de assistência durante o parto foi de 144 dias (Tabela 1).
Estudos indicam que a necessidade de assistência durante o parto está associada a uma incidência de retenção de placenta de até 68% em vacas leiteiras, enquanto aquelas que tiveram parto normal apresentam apenas 12% de casos no pós-parto (Gaafar et al., 2011; Triana et al., 2012; Buso et al., 2018). Além disso, o parto assistido pode resultar em um aumento de 2 a 3 dias no período de serviço. No entanto, em um estudo realizado em Minas Gerais, observou-se um acréscimo médio de 19 dias no período de serviço de vacas que necessitaram de assistência, mesmo na ausência de retenção de placenta, quando comparadas às vacas que tiveram parto normal.
Estudos anteriores demonstraram que o parto assistido está associado a uma menor taxa de concepção na primeira inseminação artificial (IA) pós-parto, além de um aumento no intervalo entre o parto e a primeira IA. No entanto, os resultados deste estudo foram diferentes, pois não foi observado efeito significativo do tipo de parto sobre essas variáveis.
Ainda assim, pode-se concluir que o tipo de parto influencia a eficiência reprodutiva de vacas Girolando, mesmo na ausência de retenção de placenta, uma vez que houve aumento do período de serviço nas vacas que necessitaram de assistência durante o parto.
Tabela 1. Intervalo entre o parto e a primeira IA (média ± desvio padrão), taxa de concepção na primeira IA, e período de serviço (média ± desvio padrão) de acordo com o tipo de parto.
Tipo de Parto (n) | Intervalo Parto - Primeira IA (d) | Taxa de Concepção Primeira IA (%) | Período de Serviço (d) |
---|---|---|---|
Aborto (111) | 65,81 ± 34,03 | 50,77 | 105,88 ± 72,83 |
Assistido (69) | 67,25 ± 21,03 | 36,99 | 144,00 ± 102,60 |
Gemelar (40) | 68,16 ± 25,57 | 47,73 | 105,30 ± 55,41 |
Natimorto (67) | 65,09 ± 25,59 | 46,38 | 128,70 ± 87,40 |
Normal (2135) | 64,44 ± 27,59 | 44,81 | 123,23 ± 87,18 |
Valor de P | 0,79 | 0,53 | 0,035 |
Esse estudo foi apresentado no XXVI Congresso Brasileiro de Reprodução Animal, realizado em Curitiba, PR de 07 a 09 de maio de 2025.
Referências bibliográficas
BUSO, R. R. et al., Retenção de placenta e endometrite subclínica: prevalência e relação com o desempenho reprodutivo de vacas leiteiras mestiças. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 38, p. 1-5, 2018.
ETTEMA J.F, SANTOS J.E. Impact of age at calving on lactation, reproduction, health, and income in first-parity Holsteins on commercial farms. J Dairy Sci. 2004; 87(8):2730-42.
GAAFAR H. M. A. et al., Dystocia in Frieisian cows and its effects on postpartum reproductive performance and milk production. Trop Anim Health Prod. 2011; 43(1):229-234.
SHELDON, I, M. et al., Defining postpartum uterine disease and the mechanisms of infection and immunity in the female reproductive tract in cattle. Biology of reproduction, v. 81, n. 6, p. 1025-1032, 2009.
TRIANA, E. L. C.; JIMENEZ, C. R.; TORRES, C. A. A., Eficiência reprodutiva em bovinos de leite. Anais da Semana do Fazendeiro, Viçosa, Minas Gerais, Brasil, v. 1, p. 133-136, 2012.
VAN WERVEN, T. et al., The effects of duration of retained placenta on reproduction, milk production, postpartum disease and culling rate. Theriogenology, 1992; v. 37(6):1191-1203.
WHITTLE, W. L. et al. Glucocorticoid regulation of human and ovine parturition: the
WILTBANK, M. C. Prevenção e tratamento da retenção de placenta. In Curso Novos Enfoques na Produção e Reprodução de Bovinos, Anais... Uberlândia, 2006; (10):61-70.